quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Utilizar Richard Dawkins para defender a bondade da religião, é um absurdo

Não é a primeira vez que o Marco utiliza frases soltas do livro “A Desilusão de Deus”, de Richard Dawkins, para ilustrar um argumento de um postal seu. Neste caso, o Marco refere-se a uma determinada passagem do referido livro, da página 246:

“As religiões são organizadas por pessoas: por padres e bispos, rabinos, imãs e aiatolas. Mas, repetindo o que disse a respeito de Martinho Lutero, tal não quer dizer que elas resultaram da concepção ou do desígnio de pessoas concretas.”


Contudo, Dawkins acrescenta logo a seguir:

“Mesmo nos casos em que as religiões foram exploradas e manipuladas em beneficio de indivíduos poderosos, continua a ser forte a possibilidade de a forma pormenorizada de cada religião haver sido, em grande parte, modelada por uma evolução inconsciente.”


Vejam bem: Dawkins escreve “possibilidade”; existe uma “forte possibilidade”. Vejam como se constrói uma teoria que, presumivelmente, tem uma base científica ― com todas as certezas que a ciência transmite para o mainstream cultural ― falando em “possibilidade”. Dawkins é demasiado fraco para ser lido, quanto mais citado! O seu livro é um conjunto desconexo de vacuidades.

Contudo, agora descobri a razão da fixação do Marco em Dawkins: a teoria desconexa do ateu parece servir para a valorização da fé Bahai sobre as outras religiões, porque a religião Bahai foi a última a aparecer, e portanto, terá sido fruto de uma evolução ― “não pela evolução natural genética”, mas pela evolução dos “memes” de Dawkins. Parece-me que o Marco se serve de uma teoria materialista e ateísta para proclamar a superioridade da religião Bahai. Fraca a fé, caro Marco; fraca a fé!




Eu não conheço a religião Bahai para poder dizer o que seja sobre ela.
Conheço bem o Budismo, tanto o Hinayana como o Mahayana. Conheço bem o Cristianismo dos Evangelhos ― que é diferente do Luteranismo, do Catolicismo, do Calvinismo e de outras evoluções do catolicismo cristão primordial. Conheço o Islamismo, que por ter aparecido depois do Cristianismo, não é por isso uma evolução religiosa ― pelo contrário: com o Islamismo a religião voltou à Era Moiseísta ou mesmo a uma época anterior.

A fixação de Dawkins no evolucionismo darwinista tolda-lhe o discernimento na análise histórica; Dawkins vê a História como um processo linear de evolução da espécie humana e não lhe passa pela cabeça que o processo histórico não leva o Homem inexoravelmente ao caminho do aperfeiçoamento ideológico e intelectual. Esta visão perfeccionista do Homem ― em função da História ― vem de Hegel e da sua dialéctica, e foi bastamente explorada pela chamada “esquerda hegeliana” e por Feuerbach, sendo que esta linha de raciocínio filosófico deu origem ao materialismo dialéctico de Engels e Marx.

Conclusão: a visão histórica de Dawkins é um imenso desastre, um absurdo até. Portanto, qualquer referência a essa visão histórica passa a enfermar da mesma maleita.

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