quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Marinho Pinto e a adopção de crianças por pares de invertidos

 

«O que se está a passar em Portugal com o debate sobre a co-adopção revela a anomia cívica da nossa sociedade e, sobretudo, a degradação a que chegou o nosso regime democrático.

Um sector ultra-minoritário da sociedade, que age como uma seita, impõe arrogantemente as suas certezas e insulta e escarnece dos que exprimem opiniões diferentes. O fanatismo heterofóbico dos seus prosélitos leva-os a apelidar de "ignorantes", "trogloditas" ou "homens das cavernas" todos os que ousam pôr em causa as suas certezas.

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

O “progresso” do mito e da religião, segundo Cassirer

 

Passo a citar Cassirer, interpolando algumas imagens:

«Do ponto de vista do pensamento primitivo, torna-se desastrosa a mínima alteração do estável esquema das coisas. As palavras de uma fórmula mágica, de um conjunto ou exorcismo, as fases de um acto religioso, um sacrifício ou uma oração, têm de ser repetidas na mesma invariável ordem.

domingo, 10 de novembro de 2013

A imutável Verdade

 

“Quando vemos ambos que aquilo que dizes é verdadeiro — ¿onde é que o vemos, pergunto-te? Decerto não é em ti que o vejo, não é em mim que o vês. Vemo-lo ambos na imutável Verdade, que se encontra acima das nossas inteligências.”

— Santo Agostinho, Confissões, XII, XXIV, 35

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

O enviesamento ideológico da História da monarquia

 

«O Estado Confessional e a Monarquia Constitucional

Quando a propaganda Republicana afirma que a Monarquia Constitucional falhou em separar a Igreja e o Estado, fala com rara, quase inédita, razão. Infelizmente para eles, essa razão não caminha no sentido que eles pretendem.

A encíclica "Rerum Novarum", que dá corpo à Doutrina Social da Igreja, foi entregue pelo Papa Leão XIII à comunidade católica em 1891. O governo português, que de toda a herança dos tempos do Absolutismo manteve, oportunamente, o beneplácito régio (antigo costume jurídico que fazia depender de autorização régia a publicação e circulação de documentos pontifícios em Portugal), optou por reter o beneplácito necessário à publicação do documento até depois de 1892. O conteúdo de interesse social desse documento revolucionário, especialmente na sua atenção ao direito de associação dos trabalhadores, opunha-se à doutrina liberal e aos interesses económicos dos poderes que sustentavam o regime constitucional.

Da mesma maneira, em 1884, é lançada a "Humanes Genus" pelo mesmo Papa, contra as sociedades secretas, resolvendo o governo da Monarquia "Fidelíssima" não permitir a sua circulação de todo, admoestando aqueles que a divulgassem, como aconteceu com D. Tomaz Gomes de Almeida, bispo da Guarda. Era este o Estado Confessional deposto em 1910. Não admira pois que a maioria do País Católico não tivesse levantado uma palha em prol da defunta e decadente Monarquia do trapo azul e branco. A República seria um Inimigo, mas um inimigo visível e de intenções claras e sobejamente conhecidas. Não valia a pena, de todo, para a hierarquia da Igreja Católica gastar energias a trocar este novo obstáculo pelo cancro parasitário da Monarquia Constitucional.»

Publicada por Manuel Marques Pinto de Rezende

1/

parte-se do princípio de que o país católico (ou seja, o povo maioritariamente católico, incluindo a maior parte da elite católica laica) estava consciente da censura régia em relação às encíclicas papais — o que não é, de todo, verdade.

2/

« A revolução francesa matou mais gente em apenas um mês e em nome do ateísmo, do que a Inquisição em nome de Deus durante toda a Idade Média e em toda a Europa. » — Pierre Chaunu, historiador.

O golpe-de-estado de 5 de Outubro de 1910 não foi um golpe liberal: pelo contrário, em muitos aspectos foi um golpe anti-liberal, porque teve por detrás dele uma ideologia jacobina e radical (a Carbonária e os seus acólitos de uma certa maçonaria francesa e irregular alimentada ideologicamente pelos Illuminati da Baviera). Os jacobinos franceses começaram por ser um dos instrumentos dos liberais na Revolução Francesa, para se transformarem no seu pesadelo (em bom português diríamos que "lhes saiu", aos liberais , “o tiro pela culatra”) o que se traduz na célebre frase de Pierre Vergniaud, revolucionário francês guilhotinado pelos seus camaradas:

“A Revolução devora seus próprios filhos.”

De resto, é um facto insofismável que em muitos outros países da Europa, o liberalismo coexistiu com a monarquia: por exemplo, em Inglaterra, na Holanda, na Suécia, na Dinamarca, só para referir alguns países. Portanto, dizer que “a queda da monarquia se deveu à monarquia constitucional” é falso: por detrás dos golpistas republicanos estava uma certa estirpe da maçonaria que de liberal1 não tinha absolutamente nada, como aliás se viu nos anos que se seguiram imediatamente ao golpe-de-estado.

3/

uma coisa é criticar a monarquia constitucional, que é criticável em muitíssimos aspectos; outra coisa é defender o absolutismo de D. Miguel que alguns mentecaptos defendem, contrapondo, de uma forma maniqueísta e em falsa dicotomia, o absolutismo ao liberalismo. Foi sempre esse o problema dos monárquicos portugueses: a ucronia — em vez de serem pragmáticos e realistas, e olharem o futuro tendo em conta o que temos no presente.

Percebe-se agora por que fui convidado a sair, com requintes de boa etiqueta, do blogue Prometheo Liberto: para que algumas pessoas possam escrever asneiras sem direito a contraditório.

 

Adenda: a resposta a este verbete foi dada por estoutro.

Notas
1. no sentido de liberalismo económico da escola escocesa.

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Valor (5)

 

«A mudança dos valores — é a mudança daquele que cria. Aquele que cria destrói sempre.

Os criadores foram primeiro os povos, e só mais tarde os indivíduos; em verdade, o indivíduo é ainda ele mesmo a mais jovem das criações.

Os povos suspenderam sobre si uma tábua do bem e do mal. Mas houve noutros tempos, um outro Mal e um outro Bem.

Pois todas as coisas são baptizadas nas fontes da eternidade e para além do bem e do mal; mas o bem e o mal mesmos não são senão sombras passageiras, húmidas tristezas e nuvens fugidias. Existe uma velha quimera que se chama “bem e mal”.

(…)

Conquistar o direito a criar novos valores é a mais terrível empresa para um espírito paciente e respeitoso. Em verdade, ele vê nisto uma rapina e coisa própria de uma animal rapace.

Outrora, ele amava o “Tu deves” como o seu bem mais sagrado e é neste mesmo bem que deve agora descobrir loucura e arbitrariedade, além de conquistar a sua liberdade à custa do seu amor: para semelhante rapina ele tem necessidade do leão.

(…)

Sacudi esta sonolência ensinando: O que é o bem e o que é o mal? — ninguém o sabe ainda, — a não ser aquele que cria.

É aquele que cria um fim para os homens e dá a terra o seu sentido e o seu futuro: só esse faz que uma coisa seja bem e outra mal.»

— Nietzsche, “Assim falava Zaratustra”

Aquilo que está escrito a vermelho é manifesta e logicamente falso; e aquilo que não está, é pura retórica de um literato: é pura opinião (doxa). A ideia segundo a qual os indivíduos só surgiram com a modernidade é absolutamente falsa: o que surgiu, de forma marcada, com o modernismo foi o “individualismo” que é coisa diferente de “indivíduo”.

É falsa também a ideia de que o homem tem de “conquistar o direito a criar novos valores” — porque o homem tem já o direito de descobrir novos valores, caso estes existam. É provável que hajam valores que o homem ainda desconhece; mas o homem terá que os descobrir, e não criá-los, porque os novos valores a descobrir, a existirem, existem desde sempre.

É um absurdo que se diga que “o cientista cria as leis da natureza”: o cientista apenas descobre as leis da natureza. De modo semelhante, o homem descobre os valores — e não os cria, como Nietzsche defende.

A ética de Nietzsche é absurda, e só comparável à de Peter Singer. É uma ética psicótica e que induz a psicose em quem a segue. É uma ética cujos fundamentos são indubitavelmente falsos.

Valor (4)

Eu peço desculpa por ter de incomodar o Papa Francisco I (e os "católicos fervorosos"), mas face a este artigo publicado no Guardian de 19 de Setembro, vou ter que falar no aborto — não que eu esteja “obcecado” com aborto, mas porque a articulista feminazista do jornal Guardian anda obcecada com aborto, defendendo que o aborto selectivo de nascituros do sexo feminino é um “direito da mulher”. E eu tenho que comentar.


«A consciência conduz a vida sob a sua própria jurisdição, em lugar de ser ela a submeter-se à jurisdição da vida.

O animal não se eleva acima da vida.

Mas a consciência ilumina aquilo que existe, para se interrogar sobre o seu valor: só é consciência psicológica por ser consciência moral. A vida só conhece o bem do indivíduo; a consciência eleva-se até ao bem universal. E quando o bem do indivíduo a põe [à consciência] em cheque, eis que surge o mal.»

--- Louis Lavelle, “Tratado dos Valores”


feminazistaPerante artigos como o daquela feminista e esquerdista, é impossível à consciência calar-se, por muito que Francisco I nos peça. Como disse Goethe, “se queres usufruir do teu próprio valor, atribui um valor ao mundo”. Atribuir um valor ao mundo é conceber e emitir juízos de valor, segundo a nossa consciência. É não ter medo de falar para não ferir susceptibilidades, porque não falamos para ferir ninguém mas apenas por pensarmos que a consciência conduz a vida, e não é a vida que conduz a consciência.

O aborto é o problema ético mais bicudo da actualidade, porque opõe dois direitos: o direito à vida de um ser humano, por um lado, e, por outro lado, o direito da mulher a “não se elevar acima da vida” — ou seja, o direito da mulher a ser um animal irracional. Ninguém retira à mulher esse direito, o de se tornar em um animal. Mas o que não podemos dizer, em consciência, é que esse direito da mulher em se tornar irracional — o direito de “não se elevar acima da vida” — se sobrepõe ao direito de uma vida ser.

Por muito que custe à mulher em geral, e às feministas em particular: se isto que eu escrevi não é verdade, então nada na vida faz sentido — nem mesmo faz sentido o direito de alguém se animalizar.