Tão longe no tempo quanto a História pode perscrutar, verificamos que sempre existiram ateus e não há nenhum mal intrínseco nisso. Contudo, ao contrário de Russell, por exemplo, que era um ateu de convicções pessoais e pouco mais do que isso, Dawkins introduz um elemento novo ao transformar o ateísmo numa religião.
Ser ateu ou não depende da sensibilidade de cada um de nós, e se nos cingirmos à validade da subjectividade humana, um crente não pode ser, sob o ponto de vista ético e moral, menorizado em relação a um não crente em Deus. O que Dawkins pretende claramente com o livro “A desilusão de Deus” é estabelecer uma relação identitária que estigmatize os crentes das diversas religiões, da mesma forma que a Inquisição estigmatizou os ateus na Idade Média.
Sempre me incomodou o snobismo dos ingleses que sempre deu em excentricidade e no complexo da superioridade. Porém, sendo Dawkins inglês e snobe, é profundamente religioso, porque só um religioso dedica uma vida inteira a uma causa. Naturalmente que a religião dele é diferente das existentes: a religião dele é uma profissão de fé sobre a inexistência de Deus; a sua religião é a do anti-Deus.
Dawkins é alguém que se questiona e não encontra respostas, e do alto do seu estatuto de biólogo, escreveu um livro repleto de lugares comuns. Ao contrário do que diz Dawkins, as torres gémeas de NY não caíram por causa da religião, mas por causa da política; o petróleo e a ganância coincidiram no tempo e no espaço com o islamismo, mas se não fosse o islamismo, seria certamente outra ideologia qualquer a catalizar a revolta dos povos do Golfo. A simples alusão às torres gémeas como “vítimas da religião”, logo no início do livro, deu o tom do tipo de argumentos que se iriam desenvolver.
O que mais me surpreendeu no livro foi a pobreza do argumentário, dirigido a um tipo de público mediano. Diria que Dawkins tentou escrever uma “cartilha anti-Deus”, uma espécie de “catecismo de Lúcifer” para leitores com um nível de instrução do 9º Ano. Naturalmente que para rebater um livro inteiro seria preciso escrever outro livro, e não só Dawkins não tem estatura que o mereça, como seria dar valor a uma obra com um valor muito discutível – não só do ponto de vista histórico e filosófico, como até científico. Nobody cares about Dawkins.
Discutir com um ateu é tempo perdido, porque só ele poderá encontrar sozinho a sua verdade. O tipo de linguagem adoptado por Dawkins no seu livro raia o insulto sistemático e o total desrespeito, e desprezo até, por quem não partilha as suas ideias e a sua falta de sensibilidade. Quando é acusado de fundamentalismo, Dawkins diz não é fundamentalista, mas que é guiado por uma “paixão que está sempre disponível para mudar de opinião”, como se fosse possível a um ateu mudar de opinião. Dawkins é tão fundamentalista como um taliban, e Jesus Cristo ensinou-nos que a verdadeira religião é o exercício da tolerância sem permissividade.
Depois de ler o livro – que me foi oferecido – arrumei-o na estante em sítio secundário. Fiquei com a sensação de que Dawkins é um ser humano profundamente infeliz sob a capa da “libertação ateísta” que apregoa. A imagem de super-homem que pretende fazer passar traduz um imenso sofrimento pessoal. O que resta da minha opinião sobre Dawkins pode ser lido aqui, e o seu arquétipo mental está perfeitamente definido, a ponto de não me interessar minimamente por nada mais que ele venha a publicar.
Sem comentários:
Enviar um comentário