sábado, 15 de novembro de 2008

O relativismo moral, o egoísmo e a ministra


Em conversa com uma pessoa muito mais nova do que eu, veio à baila a reivindicação de adopção de crianças por duplas de homossexuais. “Cada um sabe de si”, disse ela, “as opiniões são relativas e ninguém tem o direito de criticar os gays por quererem adoptar crianças”.

Logo a seguir, mudando de assunto, a minha interlocutora professora passou a criticar a ministra da educação. Naturalmente que quando criticamos as opções da ministra não podemos destacá-las das opções do ser humano que é a ministra; as políticas adoptadas pela ministra são consentidas pela pessoa que ela é. Por isso, é impossível dissociar uma pessoa das suas ideias e comportamentos.

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Segredos e mentiras sem fim

Segredos e mentiras sem fim

«O juiz federal Richard Barclay Surrick rejeitou o pedido do advogado democrata Philip J. Berg para que intimasse Barack Hussein Obama a apresentar sua certidão de nascimento original. A sentença baseou-se em dois argumentos: (1) pela lei americana, nada autoriza o simples eleitor a questionar a elegibilidade de um candidato presidencial; (2) Berg peticionou como simples eleitor, não como vítima, já que não comprovou qualquer dano pessoal sofrido em razão da candidatura Obama.

A Constituição americana determina que só cidadãos americanos natos têm o direito de concorrer à presidência, mas esse permanece um direito sem garantia nenhuma: por incrível que pareça, não há nenhuma instituição incumbida de exigir prova de nacionalidade dos candidatos. Se ao simples eleitor é também negado esse direito, aquele artigo da Constituição está virtualmente revogado.

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Conservadorismo (2)

“Superar” é “conservar”; é herdar, e depois, acrescentar. Se o nosso pensamento não repensasse Descartes, e se este não tivesse repensado Aristóteles, o nosso pensamento seria primitivo. Portanto, “superar” é um continuum dinâmico que supera, conservando.

terça-feira, 4 de novembro de 2008

A ciência dogmática

Recentemente surgiu a notícia de que um biólogo americano afirmou categoricamente que “Deus é um produto do cérebro humano”. Esta proposição é dogmática, e por isso, não é científica. É preciso que as pessoas comecem a ganhar consciência de que existe hoje uma “ciência dogmática”.

A proposição “Deus é um produto do cérebro humano, e por isso, não existe” é dogmática porque a ciência não pode provar a não-existência do que quer que seja ― e principalmente a biologia que segue um princípio tosco de indução e com pouca dedução. A proposição referida é uma crença, e nada mais do que uma crença. A ciência só pode provar que “existe algo”, e nunca pode fazer prova de que “algo não existe”. Desafio o biólogo tosco (ou outro qualquer da nossa praça) a provar-me que as sereias não existem; o que ele me pode dizer é que não foi encontrada nenhuma sereia até hoje, o que não significa que isso seja a prova científica de que as sereias não existem.

E mesmo que fosse provado pela ciência que algo parecido com “Deus” é produto do cérebro humano, isso não significaria absolutamente nada senão o facto da ciência provar a existência de uma determinada excrescência psicológica (a tal ciência que prova que “existe algo”), que é independente da existência ou não de Deus (que a ciência não consegue provar que não existe). Segundo o biólogo em causa, a sua (dele) mente “produz” o seu (dele) “deus” exactamente como o seu (dele) intestino grosso enforma as suas (dele) fezes; o problema é dele, e se o ideal divino dele é cagativo, a verdade é que a prova ontológica não tem nada a ver com isso. A subjectividade do biólogo em causa não é mais do que isso mesmo: subjectividade.

A “vida” não é o que se passa nas células, nas funções somáticas, na digestão e na cagação do biólogo, no sistema nervoso dele e nas suas disfunções, etc. Todas essas coisas biológicas são realidades hipotéticas construídas pela Ciência Biológica que nada mais é do que uma das muitas actividades de função de perspectiva do mundo, que faz parte da “vida” de quem a estuda e investiga ― essas coisas biológicas são apenas um detalhe e um conjunto de ingredientes entre incontáveis que achamos ante nós em função do que é realmente a vida e o universo.

Publicado em simultâneo no Perspectivas