quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Valor (2)

No seguimento do anterior verbete, continuamos a falar do Valor, segundo Louis Lavelle, que definiu o valor como “espírito em acto”. Vamos tentar colocar o problema de uma forma que seja inteligível para muita gente, ou seja, de uma forma simples.

Existe uma identidade entre o valor, por um lado, e o espírito, por outro lado. O valor é indissociável do espírito em acto. Quando o espírito deseja, e esse desejo é transformado em vontade através da razão (inteligência), essa outra identidade desta vez entre o desejo e a vontade, é o amor (o amor é a identificação entre o desejo e a vontade).

O desejo é a condição do valor. Porém, o desejo pode deter-se em um objecto particular. Acontece a todos os espíritos.

Por exemplo, acontece com os “católicos fervorosos” que transformam Deus em um objecto: Deus é “coisificado”, é transformado em um “commodity” ou em um objecto de consumo quotidiano. E quem se opuser à coisificação de Deus é insultado pelos “católicos fervorosos”.

E é no momento em que o desejo (e o amor) se detém num objecto particular (a “coisificação” do amor e do valor), que a vontade — quando esta existe, de facto — “ultrapassa” o desejo para o regenerar e para o aprofundar. A este efeito de regeneração do desejo por parte da vontade chamamos de “progresso da consciência”.

É neste processo de regeneração do desejo, por parte da vontade, que a vontade obriga o desejo a reencontrar a sua infinitude — até que o desejo se detenha em outro objecto mais complexo e profundo do que o anterior (e nisto consiste o “progresso da consciência”), e o processo de acção da vontade sobre o desejo se reinicie, no sentido do Absoluto.

O valor é o “supremo desejável”; e o valor depende da sensibilidade e da vontade do espírito, mas tendo sempre em conta que a sensibilidade e a vontade são “iluminadas” pela inteligência (e pela intuição, que é uma forma de inteligência). “O valor não é um objecto que a inteligência possa contemplar” (Louis Lavelle), mas o valor tem relação com a inteligência porque é esta que “ilumina” a sensibilidade e a vontade.

Quando o supremo desejável (que pode ser, no limite do absurdo, uma coisa, por exemplo, um Mercedes- Benz) se detém num objecto (no Mercedes-Benz), a vontade obriga o desejo a ir mais além em um processo de “progresso da consciência”. O problema acontece quando a vontade estagna e o desejo estagna com ela: se o desejo é a condição do valor, e se a vontade obriga o desejo a reencontrar a infinitude do valor — então, sem a vontade activa e pujante, o espírito e o valor cristalizam-se.

(segue)

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